domingo, 11 de janeiro de 2015

A Última Oração

Tempo - nosso maior  amigo
e inimigo.
Ele tira, dá leva e traz.
E no final, ainda como presente tosco,
leva nossa memória e nos deixa
como um casulo vazio.
E são os outros que ficam cheios,
repletos de coisas boas e ruins.
Para minha Tia, para todas as Marias.

Eu te vejo agora, com meus olhos opacos
E tantas vezes te vi tão nítida, cheia de cores, linda!
Mas agora só tenho lembranças disformes que chegam como soluções ao meu coração.
Nem sei por quê ou por quem choro.
Sorrio pouco, pois o espaço que me cerca é desconhecido.
E desconheço os braços que me seguram pois a memória levou minha vida.
Só tenho manchas. Nos braços, no rosto, em toda parte.
Arrastadas pelo meu corpo magro, fraco.
E ele que já foi tão forte, dinâmico, desbravador!
Com vida no ventre, no colo!
Agora me resta uma boneca ou duas que traz de volta o cheiro dos meus próprios filhos.
E às vezes o desespero de nem saber mais quantos foram, ou são, faz o pranto vazar e encontrar o anonimato vazio.
Mas eu amei! Tive esperança, gargalhei!
Sorri meu maior sorriso! Vesti meu vestido mais florido!
Cavalguei, destemida, mesmo abandonada e sofrida.
Provavelmente mal entendida, subvalorizada, autoestima subnutrida.
Julgada, condenada, maltratada.
Também assim desejei, tudo, por ser simplesmente mulher!
E que a vingança tenha perdão pelos dias que sombreei com minha parte minguante.
E que o rancor tenha compaixão pela bondade que temperei com muito sal.
E que as respostas justifiquem quem eu fui com um abraço quente, de quem é recebido quando volta pra casa.
Porque agora já não mais importa quantas janelas pulei nem quantas portas fechei.

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