quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A Borboleta e o Morcego


Nos perguntamos como relacionamentos entre pessoas
tão diferentes, dá certo.
Simples: o amor é verdadeiro!
Este é para alguém que é 
muito diferente de mim.
Obrigada pelo seu amor!




Na caverna, o morcego de cabeça para baixo, visão míope, percebe o som.
O sibilar das asas diáfanas o atinge.
Suas narinas sensíveis sentem o perfume, o vento, a suavidade.
Vem tudo misturado, o som do mar, o gosto de sal, a saudade.
Agarrado à rocha pergunta-se como um ser tão frágil, aventura-se na escuridão.
Mal consegue enxergar a cor, mas sente sua fragilidade tão bela.
Em sua imaginação apaixona-se pelo impossível e, atordoado com tanta beleza imobiliza-se.
A borboleta aventura-se na escuridão sem medo, como todo ser inocente, que tem a coragem latente.
Traz a lembrança da luz a guiá-la bem fundo, apenas no instinto.
E de repente pousa, como um sussurro, no peito do morcego.
As asas ao seu redor movem-se como um abraço, um mundo perfeito.
E ele, sorvendo o ar bem devagar para o momento não se esvair, é invadido pela companhia dela, nas sombras, com flores na mente.
E no silêncio um do outro, onde se podem ouvir os desejos, pontuado no fundo da caverna de ambas as solidões, eles sorriem.
E ele entende que para estar sozinho se requer disciplina; conviver com sua própria escuridão exige profundo conhecimento próprio.
Num impulso, abre a asas enrugadas e estende a alma; se solta, destemido, em direção ao destino desconhecido, com a borboleta a lhe agarrar.
Ela se firma precariamente à pele macia e percebe quão longe foi.
Relaxa e entende que mesmo no alto da montanha sentindo a brisa,
ou na beirada do abismo, a busca pelo amor dói como uma loucura.
Pensou, nos últimos seguntos – “Minha vida valeu cada bater de asas!
Agora eu sou sua, e você é meu!”
O morcego, capturado e enlouquecido percebeu, tarde demais,
que a loucura nada mais é que o resgate do próprio poder que quebra vínculos inúteis.
E se deu, em queda livre, corpo fluindo, escurecendo ao silêncio pleno.
E na dualidade do amor liberto, gostou de saber que na sua existência ela fazia parte do todo.
E eles existiram, dentro, um do outro.
Longe, perto, em algum lugar.
Em lugar nenhum.

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